Lá estava ela deslizando em seu jardim, o seu reduto, o único lugar em que sentia paz para pensar em tudo aquilo que a atormentava. Tinha tanta coisa em sua mente que parecia estar sufocando em seus pensamentos.
Desde muito tempo se convenceu de que era completamente inútil, insignificante, sem predicados e que morreria assim. Sua vida estava fadada a arrastar-se, vagando para qualquer lugar, carregando o peso de seu corpo.
Nunca alguém havia a elogiado. Nela não havia beleza. Não recebia carinho ou atenção, ao contrário, sempre que alguém notava sua existência reagia mostrando asco e se afastava.
Não conseguia entender todos a tratavam dessa maneira. No começo achou que era injustiçada, mas ao perceber que ninguém esboçava outra reação e que não podia fazê-los mudar de opinião, resolveu que essa era sua verdade. Teria que aceitar que se esse era o tratamento que tinha, era porque o merecia.
Mesmo sendo independente, pois desde pequena conseguia sustentar-se sozinha, podendo viver onde queria e tendo a chance de ter e fazer suas escolhas, o julgo que lhe impunham era pesado demais, tanto que esmagou seus desejos.
Sentia-se tão miserável, que mesmo tão pequena, era como se carregasse o peso de todas as dores do mundo em cima dela. Subiu em uma árvore para repousar, ali era calmo e solitário. Não poda ir além e fechou seus olhos.
De repente sentiu que começava a perder o controle de si. Sentia uma força avassaladora dominando-a. Sem saber como já não era mais senhora das suas vontades e de seu próprio corpo. Parou de resistir. E isso não era ruim. Na verdade era muito bom e ela gostou.
Aquela era, depois de não se sabe sequer quanto tempo, a primeira vez que a pressão do mundo exterior e a opinião das outras pessoas não importavam mais. Agora se sentia desnudada de rótulos.
À medida que o torpor aumentava começou a perceber que uma mudança operava-se dentro e fora dela. Começou a perder sua consciência. A partir daquele ponto sabia que sua vida nunca mais poderia ser igual. Fechou os olhos e abraçou seu destino silenciosamente. Acabou.
...
Quando conseguiu recobrar sua consciência lutou para escapar de sua prisão e conseguiu fugir. Agora era livre, mas já não era ela mesma, sua metamorfose estava completa.
Finalmente compreendeu que todos os acontecimentos a levaram aquele momento, que precisa traçar o caminho do sofrimento, pois ele a conduziu ao amadurecimento.
E só assim pode se transformar de uma lagarta presa em seu casulo, em uma linda borboleta.
Por Rafaela santiago Malaquias
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